DISCUSSÃO ATUAL SOBRE O MASCULINO EVOLUI COM FOCO NO EMOCIONAL
Por Dario Caldas*
Tenho pesquisado, escrito e palestrado sobre o comportamento do homem nos últimos 25 anos – na verdade, desde o meu primeiro estudo de tendências, que foi, exatamente, sobre as mudanças da identidade masculina e suas consequências para o mercado. É inegável que o assunto continua atualíssimo, até porque a questão do masculino se conecta com as transformações socioculturais mais amplas que vêm ocorrendo nas últimas décadas, tendo a mulher como vetor principal.
Apesar de existir um fio de continuidade quanto aos temas dessa discussão, desde os anos 1980-90, hoje há diferenças importantes que, a meu ver, marcam o amadurecimento da própria sociedade – e de boa parte dos homens – diante do assunto. O próprio alcance do debate é outro. Antes restrito basicamente a especialistas e à academia, atualmente ele toca o grande público. Um bom indicador desse fato é o crescimento dos grupos de homens, que estão se formando, aceleradamente, por todo o Brasil, para discutir questões como paternidade, machismo e tudo aquilo que envolve ser homem, em tempos tão conturbados.
Outro ponto de diferença marcante são os aspectos do masculino hoje postos em primeiro plano. Embora ideias como o advento do “homem sensível” fossem defendidas desde os primórdios da discussão, o ponto de maior interesse e repercussão, tanto da mídia quanto do público, recaía sobre a imagem do chamado “novo homem”, sua vaidade turbinada, seu corpo e preocupações estéticas. Hoje, ao contrário, privilegiam-se os aspectos emocionais e psicológicos, a experiência subjetiva e as dores das masculinidades, no plural. É um avanço e tanto, considerando-se a proverbial dificuldade dos homens em expor as suas fraquezas.
Privilegiam-se os aspectos emocionais e psicológicos, a experiência subjetiva e as dores das masculinidades, no plural.
Um sinal recente desse reenquadramento emocional é o filme Ad Astra – Rumo às Estrelas, que acaba de estrear no Brasil. Brad Pitt interpreta com muita competência o protagonista Roy McBride, um astronauta de meia-idade que parte numa viagem espacial em busca do pai desaparecido e que vai, por tabela, à procura de si mesmo. O filme todo é uma grande metáfora do masculino contemporâneo, como há tempos não se via: a relação pai e filho, a pressão permanente para sustentar uma imagem monolítica, a desconstrução da figura do herói, tão cara a Hollywood, o papel da mulher… São muitas as fissuras que vão, aos poucos, revelando a verdade irredutível do homem tomado pela solidão e pelo sofrimento existencial.
Voltando ao mercado, é claro que o consumo desse homem que se reinventa continua apresentando novas possibilidades. Há muito espaço para crescer em segmentos e categorias pouco explorados ou inadaptados às novas necessidades masculinas. No entanto, observo, frequentemente, a falta de uma linguagem apropriada para falar com os consumidores. O tom dominante da conversa tem privilegiado o conceito de “masculinidade tóxica”, uma espécie de condensado de tudo o que há de pior na humanidade. Embora reconhecendo fundamentalmente que o homem precisa evoluir e se adaptar aos novos tempos, não vejo a demonização do masculino como um caminho para a mudança positiva, muito menos como uma boa estratégia de comunicação. Corre-se o risco, por exemplo, de reduzir o homem como um todo (ou todos os homens) a essa dimensão “tóxica”.
Em vez disso, vejo muito espaço para ações e estratégias positivas, construtivas, que colaborem efetivamente para o debate, não apenas apontando o dedo e culpabilizando os indivíduos – que, de resto, precisam de ajuda e anseiam por se expressar livremente, sem medo de serem julgados e previamente condenados. Enfim, há uma avenida de oportunidades para as marcas que quiserem, efetivamente, se posicionar como amigas dos homens.
*Texto originalmente publicado na seção Pulse do Linkedin:
https://www.linkedin.com/pulse/discuss%25C3%25A3o-atual-sobre-o-masculino-evolui-com-foco-emocional-caldas