Harry’s Law é Boston Legal no novo Zeitgeist
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A julgar pelos primeiros capítulos, a nova série jurídica Harry’s Law (Warner) vem preencher a imensa lacuna deixada por Boston Legal (“Justiça para Todos”), que saiu do ar em 2009, aqui no Brasil. Do mesmo escritor/podutor David E. Kelley, os ingredientes estão todos lá: tom crítico, “dramédia” e pelo menos um grande nome como protagonista – no caso, a excelente Kathy Bates, fazendo a advogada Harriet Korn, tão idiossincrática quanto o inesquecível Denny Crane (criação do ator William Shatner, em Boston Legal). E “a” Harry tem também até um Adam (Nate Corddry) como parceiro, reforçando as semelhanças entre as duas séries, que, no entanto, param por aí. É admirável como os roteiristas americanos sabem fazer evoluir o seu discurso de acordo com o Zeitgeist, captando rapidamente as novas demandas sociais e transformando-as em histórias saborosas e frescas. Assim, se os tempos continuam bicudos, isso se deve não mais aos ataques às liberdades individuais da última era Bush, alvo de constantes críticas nos episódios de Boston Legal, mas aos sérios problemas econômicos e de desemprego por que passa atualmente o país mais rico do mundo. Por isso, saem os negócios de milhões de dólares, os happy hours incensados por baforadas de charutos e os escritórios suntuosos em torres de vidro, para dar lugar a tramas envolvendo minorias, imigrantes, excluídos pelo Estado americano, num escritório improvisado em uma loja de sapatos abandonada, numa periferia urbana com toda a pinta de franja do capitalismo. O resultado é outra lufada (e aqui volta o paralelo com Boston Legal) de inteligência com sensibilidade e humor, e de crítica social com desconstrução, rara na TV americana, da imagem todo-poderosa dos EUA.