Nova classe AB

Projeções divulgadas ontem pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, na pesquisa “De volta ao país do futuro”, apontam para um crescimento expressivo da classe AB até 2014 – em torno de 29%, totalizando cerca de 29 milhões de brasileiros – desbancando, em termos relativos, todas as outras classes.

Segundo o coordenador da pesquisa, Marcelo Néri, isso vai permitir falar da “nova classe AB”, óbvia referência à “nova classe C”, vedete absoluta dos últimos anos.

A pesquisa divulgada atualizou as definições de classe da FGV, em termos de renda familiar média, para intervalos mais realistas (por exemplo, a classe C agora tem renda familiar entre R$ 1.734,00 e R$ 7.475,00) e deu espaço para a autopercepção de felicidade dos indivíduos como medida complementar aos dados puramente econômicos, na aferição da qualidade de vida de uma população (tendência cada vez mais forte no mundo). Resta saber:

  1. Se as projeções, bastante otimistas, se confirmarão, diante de um cenário internacional cada vez mais adverso e de um cenário interno onde os estratos inferiores das classes médias têm as finanças deterioradas por um endividamento crescente;
  2. Se as empresas e marcas que correram para se posicionar decididamente “nova classe C” vão se arrepender de fazer um discurso cada vez mais distante dos estratos de maior poder aquisitivo, e, nesse caso, como elas passarão a se comportar.

Afinal, em uma operação de reposicionamento dessa monta, tão delicada, se uma certeza existe é a de que é mais fácil perder parte do target tradicional da marca, que deixa de se identificar com ela, do que a conquista automática de novas fatias de mercado…

Imaginamos, numa reunião com os gestores de uma marca passando por essa situação (exemplos abundam), uma avalanche de perguntas precisando de respostas urgentes: Quem é a nova classe AB? Preferências, gostos, afinidades?

Fala-se tanto de tendências trickle across, mas o que haverá de específico para essa nova elite em expansão? No caso de um revés mais grave da economia, está provado que essas fatias da sociedade têm mais chance de manter suas posições, seja pela taxa de escolaridade mais alta, seja pelo maior jogo de cintura diante das crises.

Mas com base em quais valores a nova classe AB vai se comportar e consumir? As respostas não se encontram, por certo, nas instâncias do mercado que ainda não conseguiram nem mesmo enxergar a nova classe C sem as lentes autocentradas do preconceito (vide, por exemplo, a maioria dos comerciais brasileiros de cerveja, so last century) – que dirá a nova classe AB.

Dario Caldas
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