O QUE É CAMP, AFINAL?
O camp – uma das configurações da sensibilidade moderna, ou do gosto, para usar uma expressão de sentido mais amplo – está novamente em alta. Definido como um tipo de esteticismo que privilegia o artificial e o exagero, o estilo camp, que tem aparições frequentes na cultura e no consumo, vai reganhar destaque ao longo deste ano, como tema da exposição anual do Costume Institute do Museu Metropolitan, de Nova York, e do influente baile que marca a sua inauguração – o Met Ball.
Foi a ensaísta Susan Sontag quem melhor analisou e explicou a essência do camp, em um texto referencial, “Notas sobre o camp”, de 1964. A seguir, selecionamos alguns dos insights mais esclarecedores de Sontag para ajudar a entender por que o camp volta a ser tão atual:
O Camp é um tipo de esteticismo – um modo de ver o mundo como fenômeno essencialmente estético – que privilegia o inatural, o artificial, o exagero e que transforma o sério em frívolo.
“A marca do Camp é o espirito da extravagância”.
O Camp não é só um modo de ver as coisas, é também uma qualidade que pode ser encontrada nos objetos e no comportamento das pessoas. Assim, “há filmes, roupas, móveis, canções populares, romances, pessoas, edifícios campy…”.
O Camp tem mais afinidade com determinadas artes do que com outras: sobretudo, moda, mobiliário e decoração de interiores, pois o camp se afina com tudo aquilo que é decorativo.
“Muitos exemplos de Camp são coisas que, de um ponto de vista sério, são arte ruim ou kitsch”.
O andrógino é seguramente uma das grandes imagens da sensibilidade Camp. Aliado a essa característica, há uma tendência ao exagero das características sexuais e aos maneirismos da personalidade.
O Camp vê tudo entre aspas e entende que “Ser é Representar um papel”, estendendo a metáfora da vida como teatro.
“Camp é a glorificação do ‘personagem’”.
“Camp é a experiência do mundo consistentemente estética. Ela representa a vitória do ‘estilo’ sobre o ‘conteúdo’, da ‘estética’ sobre a ‘moralidade’, da ironia sobre a tragédia”.
“O Camp é jocoso, anti-sério”. Porém, “pode-se ser sério a respeito do frívolo, e frívolo a respeito do sério”.
“Camp é a resposta ao problema de como ser um dândi na era da cultura de massa”.
“A insistência Camp em não ser “sério”, em brincar, também se relaciona ao desejo do homossexual de parecer jovem”.
“O gosto Camp é, acima de tudo, uma forma de prazer, de apreciação — não de julgamento. O Camp é generoso. Quer divertir. Só aparentemente é maldoso, cínico. (…) Camp é um sentimento terno”.
PEQUENO REPERTÓRIO CAMP
Susan Sontag enumera diversos exemplos de camp em seu texto, muitos dos quais distantes do leitor contemporâneo, outros mais facilmente identificáveis: o Lago dos Cisnes, as óperas de Bellini, os cartões postais do início do século XX, o vestuário feminino dos anos 1920 (boás de plumas, vestidos com franjas e miçangas…), os edifícios de Gaudí em Barcelona…
Eis a nossa própria lista de manifestações contemporâneas do gosto camp:
Os vídeos de estrelas pop como Kate Perry e Nick Minaj…
As Kardashians… Os Gretchens…
Pose, a série.
Drag Race com Ru Paul, e o brasileiro Drag Me As A Queen.
As campanhas da marca Diesel nos anos 1990…A fase atual da Gucci, com o estilista Alessandro Michele.
Male beauty influencers
Flower boys e K-pop…
“Hebe”, o filme (estreia prevista: 15/8), com Andréa Beltrão interpretando a icônica apresentadora brasileira, que comandou o próprio programa por várias décadas e conquistou o público com sua irreverência camp em estado bruto.
*Artigo originalmente publicado no ODES Report Insights & Tendências de Comportamento e Consumo, de fevereiro/2019, uma publicação distribuída com exclusividade pelo Observatório de Sinais aos nossos clientes. Informações: cesalles@observatoriodesinais.com.br