ODES inicia nova pesquisa de mídia sobre TV paga
Quando a CNN foi lançada nos EUA, em 1980, o conceito de um canal de notícias 24 horas foi uma grande inovação. Ao mesmo tempo em que sinalizava o processo mais geral de segmentação crescente da TV a cabo, o novo canal apostava na tendência a um consumo full time de informação pelo consumidor – algo que a internet, alguns anos depois, viria a realizar plenamente. Trinta anos se passaram, o modelo inaugurado pela CNN se globalizou e o canal deixou marcos definitivos: como não citar a transmissão ao vivo da Guerra do Golfo ou o atentado do 11 de setembro, numa história das mídias contemporâneas?
No Brasil, as principais redes de TV entenderam que ter um canal de notícias próprio é estratégico para manter um fluxo permanente de contato com a sociedade e com o consumidor. No entanto, temos observado problemas sérios na comunicação e no conteúdo dos programas definidos como “jornalísticos”, veiculados por esses canais. Tem-se a impressão de que existem intenções a mais nesses programas e no noticiário de um modo geral, para além da notícia em si: um corporativismo velado, o favorecimento mal disfarçado deste ou daquele Estado da federação, o que pode sugerir, ainda, interesses político-comerciais das próprias emissoras. É algo que remeteria, exagerando as cores, ao posicionamento da americana Fox, decididamente republicana. Perguntamo-nos, entretanto, se cabe esse tipo de propósito na televisão paga brasileira, ainda tão restrita, e qual seria a opinião dos consumidores sobre isso. Na percepção deles, o olhar das próprias emissoras estaria prejudicando a objetividade da informação, dos jornalísticos, servindo a propósitos locais? Há mais perguntas: O que faz um canal de notícias ser atraente, estimulante e confiável, hoje, do ponto de vista do novo consumidor de mídias? Como ser global, nacional e local, sem resvalar para o que chamaremos aqui de “territorialismo”, um excesso de visão autocentrada? O que os consumidores definem como relevante? Por outro lado, é verdade que a “nova classe média” deseja uma comunicação mais “simplificada”?
A TV paga é protagonista no novo cenário de mídias, embalada pelos avanços recentes da legislação para o setor e do consumo no país. Há muito a conquistar, visto que apenas 18% dos lares pagam por conteúdo televisivo (na Argentina, são mais de 50% e nos EUA, mais de 90%). Diante desse quadro, o Observatório de Sinais deu início, em julho último, à inédita pesquisa proprietária “Canais de notícias na TV paga”. O objetivo principal do estudo é gerar informações estratégicas para o mercado – emissoras, teles, programadores da TV paga, produtores de conteúdo independentes, agências e anunciantes -, assim como o fizeram o “Dossiê Reality” (2010) e a pesquisa “Consumo em Tempos de Crise” (2009). Para atingir esses objetivos, o estudo fará uma análise semiológica dos “discursos” dos canais (entendidos como manifestações verbais e não-verbais) e, através de pesquisa com o consumidor de mídias e da análise comportamental, investigará as percepções do brasileiro de seis capitais, e também de fora do Brasil, por meio de nossa rede de antenas internacionais. A pesquisa vai durar doze meses e trará, ainda, uma análise dos principais benchmarks internacionais. Colaboradores serão chamados a participar do time de pesquisadores e podem fazer contato pelo email colaboradores@observatoriodesinais.com.br, assunto “tv paga 2011”.