NOVA TENDÊNCIA: OH MY GOD! (parte 1)

Conheça a nova tendência ODES e entenda como e por que o campo da espiritualidade e da religião voltará a ser protagonista, em 2018.

 

Em tempos turbulentos e de mudanças aceleradas, nem sempre positivas, os anseios por felicidade e equilíbrio, ainda que constantes na equação humana, tendem a recrudescer.

O grande apetite dos indivíduos por experiências que entreguem bem-estar e mais qualidade de vida é um sinal evidente dessa macro-orientação. Nesse cenário, temos visto o boom de segmentos como a alimentação saudável, o universo fitness e outras práticas corporais. Nos últimos anos, o mercado wellness, que engloba esses e outros aspectos do consumo, tem conhecido uma verdadeira explosão. Agora, o campo da espiritualidade e da religião vem agregar mais um vetor ao quadro já formado: o bem-estar espiritual é a nova fronteira wellness a ser explorada.

 

 O bem-estar espiritual é a nova fronteira wellness a ser explorada.

 

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Desde já, alertemos que não se trata de um “retorno da religião”, nos moldes tradicionais. Isso porque tanto as religiões como as ideologias estão perdendo poder de influenciar os indivíduos. Como analisamos no estudo “Depois de Amanhã”, as mudanças nas religiões acompanham o próprio individualismo:

 

“Vão perder força junto a essa geração [os jovens] as manipulações de instituições como partidos políticos e religiões. Para renovar o seu discurso e estancar a perda de fieis – já que o culto da espiritualidade sem religião é a tendência mais forte, de modo geral – as religiões vão ter que se flexibilizar, confirmando que o poder tende para o lado do indivíduo, para onde quer que se olhe”.

(“Depois de Amanhã: Consumo e comportamento jovem no Brasil”, estudo autoral ODES, 2016).

 

É exatamente esse o tom da tendência OH MY GOD! O individualismo favorece a apropriação pessoal das práticas religiosas, que são misturadas de acordo com critérios e crenças pessoais, dentro de uma religiosidade que é laica e dessacralizada.

 

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Seguidores da Universal White Brotherhood, uma sociedade esotérica, que combina Cristianismo e misticismo hindu. dançam o ritual “paneurhythmy”, na Bulgária (19/08/17). Foto: REUTERS/Stoyan Nenov TPX IMAGES OF THE DAY.

 

Tem mais: a necessidade de equilíbrio espiritual se encaixa, duplamente, na busca de autoconhecimento e na atual (e preponderante) visão gerencial da vida, para a qual o mais importante é manter-se produtivo, criativo, proativo… A espiritualidade se torna, assim, mais uma área a ser bem administrada dentro do self management que se generalizou. Digamos, para resumir, que é uma espiritualidade de resultados.

 

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Imagem: captura de tela do Linkedin, ODES.

 

De resto, nos últimos meses, um conjunto eloquente de sinais (que demonstraremos no próximo post sobre o tema) vem indicando que o território espiritual-religioso voltará para o centro do carrossel das tendências, em 2018.

Então…let’s get spiritual!

CONTEXTO GLOBAL

 

Nas últimas décadas, temos visto muitos fenômenos novos acontecerem no campo da religião e da espiritualidade. Para entender o contexto global e brasileiro da tendência OH MY GOD, resumimos os principais movimentos:

 

– O desprestígio das religiões tradicionais é diretamente proporcional à queda do número de fiéis, que se verifica um pouco por toda parte.

 

– Em compensação, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo, mais por efeitos demográficos (forte crescimento populacional de países asiáticos e africanos muçulmanos) do que por conversão. Até meados deste século, deve ultrapassar o catolicismo como a religião com maior número de fiéis.

 

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Foto: Yazgi, Flickr.

 

– O avanço das seitas protestantes é outro fenômeno que repercute em países tão diversos como os EUA, Portugal e o próprio Brasil. A “teologia da prosperidade”, aliada à ideia de “um Deus que faz”, respondem aos anseios de largas camadas das classes médias, combinando valores conservadores com ideais economicamente liberais.

 

– O catolicismo está tentando fazer uma espécie de lifting em sua imagem, conduzido pelo popularíssimo Papa Francisco, que vem introduzindo mudanças paulatinas, mas muito importantes, na estrutura da igreja. Sob o signo da simplicidade e do despojamento, essas mudanças são tão necessárias quanto urgentes, pois a igreja católica vem atravessando um momento de fraqueza, com reiteradas denúncias.

 

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Freira tira foto do Papa Francsico na sua visita a Lima, Peru, 21/01/2018. Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi.

BRASIL: TRANSIÇÃO RELIGIOSA

 

– Apesar da popularidade de Francisco no Brasil, o número de católicos entre nós caiu 9 pontos percentuais ente 2000 e 2010 e 20 pontos desde 1980 (fonte: IBGE). Mesmo assim, continuamos sendo “o maior país católico do mundo”.

 

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– As religiões evangélicas passaram de 15% da população em 2000 para 22% em 2010 (IBGE). Para o instituto Datafolha, os evangélicos já somavam 29% da população em 2016.

 

– Além dessa transição religiosa – cada vez menos católicos e mais evangélicos -, o dado mais significativo diz respeito às pessoas sem religião, que passaram de 4,7% para 8,0% da população entre 2000 e 2010 (IBGE). Para o Datafolha, os sem religião já eram 14% da população em 2016 – ou seja, um número próximo dos 30 milhões de pessoas! Por outro lado, outra pesquisa publicada em 2017 mostrou que 44% dos brasileiros afirmam seguir mais de uma religião, simultaneamente.

 

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Carioca tem em casa um altar com elementos de várias religiões. Foto: Antonio Scorza, O Globo.

 

Esses números escondem uma outra realidade: há um crescimento exponencial das pessoas identificadas com o perfil SBNR: Spiritual But Not Religious. São indivíduos urbanos, que buscam estilos de vida alternativos, muito orientados para o corpo e a saúde. Esse perfil é fortemente influenciado pelas religiões orientais, especialmente o budismo – não por acaso, uma religião não teísta -, em um movimento tão influente que o ODES já o chamou de budismo pop. Mas também podem, eventualmente, identificar-se com traços e elementos das religiões afro e de crenças esotéricas de modo geral.

 

Em todos os meus programas, sempre tive um altar, muitas vezes até no cenário. Coloco cristais, fotos dos meus filhos, uma divindade hindu, Santo Antônio… Sinto que as coisas pedem para ir, sabe?” (Fernanda Young, escritora, para o blog Alto Astral)

 

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Grupo de pessoas tocam as pedras do monumento de Stonehenge, ao amanhecer do solstício de verão, perto de Amesbury, na Inglaterra. Foto: Neil Hall / Reuters.

 

Essa matriz comportamental faz convergir as ideias de força espiritual, equilíbrio emocional e bem-estar físico e mental, e é a cara do individualismo galopante contemporâneo.

 

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Praticantes reunidos no Times Square, em Nova York, no Dia Internacional da Yoga. Foto: NYT.

SPIRITUAL WELLNESS

 

Os consumidores estão cada vez mais ligados na tendência wellness e procuram formas de aprofundá-la e de ampliá-la. Por isso, procuram soluções e alternativas para além do setor de saúde mais tradicional e das soluções que já conhecem.

É por aí que a onda do bem-estar espiritual vai ganhar terreno – e ela tem tudo para conquistar o consumidor brasileiro, mais propenso e tolerante às diversas formas de espiritualidade.

Acompanhe, no próximo post premium do blog Sinais, a continuação da história OH MY GOD! com os sinais e o impacto dessa tendências em diversos setores de atividades.

 

Foto: Keturah Stickan, Flickr.
Odes