OH MY GOD! (parte 2)
No post anterior, analisamos o significado e o contexto geral da tendência OH MY GOD! Agora, apontamos os sinais que confirmam o novo élan do campo da espiritualidade, em suas conexões com o consumo e o bem-estar, e damos pistas para a pesquisa, o desenvolvimento de produtos e como as marcas podem explorar essa tendência.
NOVOS SINAIS
Ultra Violet
A cor do ano indicada pela Pantone tem matriz espiritual, e foi assim descrita pela empresa:
Historicamente, sempre houve uma qualidade mística e espiritual relacionada ao Ultra Violet. Esta cor sempre foi associada a práticas de expansão da consciência, oferecendo uma base mais elevada para aqueles que buscam refúgio deste mundo superestimulado. O uso de iluminação em cores violetas e roxas em espaços de meditação e outros locais de encontro, energizam as comunidades que se reúnem ali e inspiram a conexão.
Wellness Interiors
O design avança pela seara do bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. O “último grito” para o design de interiores não é apenas a beleza estética, e sim fazer o indivíduo/usuário sentir-se bem e em paz consigo mesmo.
Em 2017, o guru new age/wellness Deepak Chopra (que ficou famoso a partir de suas aparições no programa da Oprah, nos anos 1990) fechou parceria com players do setor imobiliário norte-americano (Deepak Chopra + Property Markets Group + Delos) para construir empreendimentos de alto luxo totalmente projetados a partir de noções como bem-estar biológico, saúde preventiva, equilíbrio e sensação de felicidade interna.
No Salão do Móvel de Milão de 2017, foram vários projetos no mesmo sentido. Uma das instalações concorridas na cidade foi a da marca Audi com o designer japonês Yuri Suzuki, que montou, no pátio interno de um prédio histórico da cidade, uma instalação sonora, o Sonic Pendulum, projetado para “proporcionar um momento de bem-estar meditativo aos visitantes”.
Pop-up meditation
Em janeiro de 2018, Nova York ganhou uma experiência de pop-up meditation, o Be Time, um estúdio de meditação móvel, circulando pela cidade, e apresentado da seguinte forma:
Be Time acredita que uma sessão de 30 minutos de meditação ajuda as pessoas a desconectarem e reconectarem, oferecendo a elas uma dose de cuidado consigo mesmo (…) Está provado que meditar de 10 a 20 minutos por dia aumenta a sua produtividade e criatividade, reduz o stress, a ansiedade, o risco de doenças cardiovasculares, melhora a insônia e o relacionamento consigo mesmo e os outros, entre outros benefícios.
Séries
Novas ou recentes, essas séries exploram o universo religioso-espiritual como centro da trama e formam um pacote para lá de considerável:
O Jovem Papa
Com Jude Law no papel principal a trama do primeiro papa americano e ultraconservador pode não convencer, mas a concepção estética (fotografia, locações) frequentemente vale a pena – a direção é do felliniano Paulo Sorrentino, de “A Grande Beleza”. Em exibição no canal Fox Premium 1.
Shut Eye
Submundo, crime e espiritualidade. Baseada em casos reais, a trama se desenvolve num ambiente de mentalistas, máfia cigana e falsos videntes – até que o protagonista, Charlie (Jeffrey Donovan) acaba tendo visões “de verdade”. Tem a atriz cult Isabella Rossellini, ótima como matriarca do clã cigano. Em exibição no cal Fox Premium 1.
Além dessas séries, já comentamos sobre The Preacher, Lúcifer e O Exorcista recentemente, neste outro post.
Moda e Religião
O tema do Met Gala de 2018 – o baile de gala do Museu Metropolitan de Nova York – será Fashion and Religion. Paralelamente, o museu abre no dia 10 de maio a badalada exposição de primavera do seu Costume Institute, intitulada Heavenly bodies: Fashion and the Catholic Imagination. É influência certa para a primavera-verão do hemisfério norte (nosso outono-inverno deste ano).
Mas não é só de catolicismo que se trata. A oferta de moda para muçulmanos, por exemplo, é crescente (ainda que não tão visível no Brasil). Em setembro de 2016, a New York Fashion Week teve o seu primeiro desfile todo com hijabs, da estilista muçulmana Anniesa Hasibuan.
Em 2017, a coleção de trajes esportivos com hijab lançados pela Nike foram tão festejados quanto objetos de polêmica.
RECOMENDAÇÕES
Marcas de design, moda, acessórios, joalheria e wellness têm espaço para explorar produtos e mensagens de cunho emocional-religioso ao longo de 2018 – desde que isso seja feito de modo light.
Mas, atenção, há um alerta para conflitos! A controvérsia está garantida. Dependendo de quem vê, as religiões podem ser vistas como recursos legítimos para alcançar a felicidade (do mesmo modo que a filosofia) ou como indefensáveis instrumentos de dominação (uma visão um tanto quanto fora de moda, mas ainda assim…).
De toda forma, como afirmamos no nosso último estudo Você, Cidadão (ODES, 2017), no novo quadro social e das mídias sociais, sempre haverá grupos descontentes. Portanto, sempre haverá conflito em torno de questões identitárias – e a religião é um prato cheio para isso!
REFERÊNCIAS
Confira cinco vezes memoráveis em que a religião inspirou a passarela (Via Dazed).
Os estilistas italianos sempre ativaram referências ao catolicismo: é o caso recorrente de Dolce e Gabbana e o mesmo se pode dizer de Ricardo Tisci.
No Brasil, o desfile do estilista João Pimenta de inverno 2011 na SPFW mesclou padres e militares e agradou a crítica. Em 2012, Alexandre Herchcovitch fez um desfile masculino inspirado nos judeus ortodoxos.
O pop e as religiões têm um namoro que surge de vez em quando, junto com a polêmica. Madonna e Lady Gaga sabem que o tema é provocativo e navegaram bastante por águas religiosas.
Para aprofundar sobre os potenciais conflitos que a apropriação do tema pode gerar, leia esta análise do HuffPost.
Alguns artigos bacanas para ajudar a entender melhor a ideia de transição religiosa que o Brasil está vivendo:
A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil (Via Unisinos).
O novo retrato da fé no Brasil (Via IstoÉ).
Conheça os 25 maiores grupos religiosos do Brasil (Via ComShalom).
Bem, você está no Brasil, então saia da internet para pesquisar! Capitais como Salvador e Rio, além das cidades históricas mineiras, são museus a céu aberto para pesquisa. São Paulo oferece um de seus melhores museus sobre o tema: o Museu de Arte Sacra, com sua incrível coleção de ourivesaria e prataria.
Por fim, duas visões de estrangeiros, profundamente inspiradoras, sobre a espiritualidade e o sincretismo brasileiros:
O antropólogo Pierre Verger produziu algumas das mais icônicas imagens das religiões afro-brasileiras na Bahia.
O filme Espaço Além mostra a artista contemporânea Marina Abramovic viajando pelo Brasil em busca de cura pessoal e inspiração, enquanto experimenta rituais sagrados. A jornada inclui as curas do médium João de Deus em Abadiânia, cerimônias de ayahuasca e sauna sagrada na Chapada Diamantina, processos xamânicos em Curitiba…Enfim, uma viagem e tanto, em todos os sentidos. Em exibição no canal Arte 1. Imperdível.
Até breve, e não se esqueça…
Let’s get spiritual!