A guerra dos muros

De um lado, grafieteiros, de outro, pichadores. Ou melhor, de um lado grafiteiros mainstream, de outro pichadores-com-causa e grafiteiros underground, e de um terceiro lado, os pichadores “autênticos”. Faz sentido? O fato é que a situação nesse “segmento” se complica, com os ataques da turma cabeça de pichadores que tomou conta da Bienal, depois de praticar atos semelhantes em faculdades, galerias e grafites das ruas de São Paulo.

A imprensa protesta, as empresas (que grafitam os seus muros e portas para evitar pichações) protestam, e os grafiteiros mainstream, acusados de “vendidos”, também. Já os pichadores-com-causa justificam suas ações com o mesmo refrão dos pichadores “autênticos” – devolve-se à metrópole a dureza com que ela nos trata igualmente a todos (uns mais igualmente que outros, acrescentamos nós) – só que eles, os com-causa, são bem nutridos e universitários, enquanto os autênticos vêm das periferias e das franjas do consumo. Lembramos daquele primeiro círculo de difusão do punk, quando o movimento perde força entre os punks “autênticos”, na virada dos anos 80, e ganha o meio universitário londrino, já com a dupla Vivienne Westwood/Malcom MacLaren em ação. Agora, que purismo é esse, dessa turma que quer dizer o que pode e o que não pode, em plenos anos 2010? Garfite underground pode, grafite limpinho não pode… será a síndrome da Dra. Lorca? Bom, é verdade que o grafite em si já é maisntream, vide os guias dos melhores grafites da cidade que a grande imprensa vem publicando (Revista da Folha, e agora o do Daniel Piza, no Estadão de 02/11), também tem muita gente lucrando com a arte urbana, por exemplo empresas de design que “divulgam” essa manifestação, estampando pratos e canecos com grafites “únicos e exclusivos” de jovens grafiteiros querendo mesmo divulgar o seu trabalho e ganhar algum.

A institucionalização, depois da etapa galerias, passa agora pelos museus – a mais recente manifestação é a exposição de osgemeos no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Mas – e daí? Já se sabe faz tempo que o destino dos movimentos de estilo e do “novo” que emerge das ruas é ser cooptado pela cultura oficial e perder em força de contestação. Ainda sobre a institucionalização do grafite: Interessante notar, na exposição de osgemeos, que as obras (bom, se está no museu já dá para falar assim, ou não?) funcionam sobre a parede, mas não funcionam em qualquer suporte. Quando se transformam em “telas”, os grafites perdem alguma coisa de seu encanto original e da magia do traço da dupla, quase caindo em um registro naïf meio banal – a perda de punch a que se aludiu acima…

Dario Caldas
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