Alerta clichê: Por que os millennials NÃO são nostálgicos
Pobres millennials… Uma das gerações mais discutidas e estudadas da história e, ao mesmo tempo, uma das mais incompreendidas, vítimas de clichês de todos os tipos! Alguns deles, a gente até já tratou aqui. Mas tem novidade na área, devido a um “fato novo”: por causa do sucesso da turnê de Sandy e Júnior, o clichê do momento é afirmar que essa é uma prova cabal de que os millennials seriam…nostálgicos! Está errado, eles não são! E antes de explicar porque não são e separar as bolas, vale enfatizar que esse tipo de “análise de comportamento”, que conclui rapidamente um “perfil” sem aprofundar, nem considerar argumentos que não se encaixam na tese-marmitex, toda pronta de saída, é, ao fim e ao cabo, um tremendo desrespeito com o indivíduo do nosso tempo e sua complexidade.
UMA GERAÇÃO QUE AGREGA
A geração millennial não dispersa – ela agrega, junta, acrescenta e, por isso, não abandonou os seus heróis. O culto de ícones da infância se explica antes por uma uma linha de continuidade – o Chaves está aí na TV para provar, a Xuxa também – do que pela ideia de resgate. Indicamos esse ponto essencial do comportamento millennial no estudo ODES Depois de Amanhã.
IE-IE-IÊ
O maior problema com a afirmação “os millennials são nostálgicos” é dar a esse traço uma importância maior do que ele tem. A revalorização de elementos do passado e os revivals de determinadas épocas são observáveis, com maior ou menor ênfase, em todas as gerações.
No caso da Geração X, a new wave, com toda a sua modernidade, tinha uma estética fortemente referenciada nos anos 1950. Quem se lembra que o primeiro nome da banda Titãs era… “Os Titãs do Ie-ie-iê”?!? Nem por isso eram “nostálgicos”.
Já os boomers são mais nostálgicos – basta pensar na expressão “os anos dourados”, usada para falar da década de 1950.
PASSADO PRESENTE
Por outro lado, os millennials têm uma relação diferente das outras gerações com o passado, por diversas razões.
Primeiro, porque, no período em que vivemos, o passado é “presentificado”, isto é, ele é “rebatido” sobre o presente, de modo que produtos, estilos e experiências das décadas anteriores são atualizados, vividos “ao mesmo tempo agora”.
Isso faz com que os millennials sejam essencialmente ecléticos e curtam, com a mesma intensidade, um show do BTS, do Radiohead, do Alok – ou de Sandy e Junior. Joga a favor dessa característica a democratização do acesso à informação que a internet permitiu.
RESSIGNIFICANDO O PASSADO
Ressignificar experiências e produtos passados não quer dizer, necessariamente, nostalgia. Por exemplo, os millennials reclassificaram como cool coisas como a máquina de escrever, a caneta tinteiro, o banho de banheira, o vinil e a fita cassete, e não porque essas coisas tenham feito parte de seu passado – na maior parte dos casos, não fizeram.
Os valores que os fazem trazê-las de volta são outros: um certo charme do antiquado, muito cultuado pela subcultura hipster, sobretudo quando o antigo é misturado ao hipermoderno; o desejo de conexão com uma sensibilidade diferente da realidade de aceleração digital em que eles vivem (todos vivemos); a busca por experiências que sejam, de certo modo, alternativas à sobrecarga sensorial do nosso tempo.
REVIVALS CÍCLICOS
O processo permanente de presentificação do passado também funciona por ciclos. Neste momento, o foco são os anos 1990 – como já aconteceu, de modo até mais intenso, com a década de 1980.
Na moda, por exemplo, o estilo dessa década está sendo fortemente revisitado. Para citar um exemplo, o estilista americano Marc Jacobs relançou, tal e qual, no ano passado, a sua icônica coleção grunge de 1992, em parceria com a Perry Ellis.
INOVADORES, NÃO NOSTÁLGICOS
Por fim, e mais importante: Os millennials são uma geração essencialmente aberta para o presente e para o futuro. O passado é só mais uma peça dessa equação. A palavra-chave para entender os millennials é inovação. O desejo de reinventar as tradições, de fazer as coisas de modo diferente e de se abrir para o novo estão entre suas principais características. Ou seja, nada mais distante da ideia de nostalgia…
Moral da história: Evitar clichês é dever de todos. 😉