A LINKEDIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS

Nos tempos do velho Orkut, as redes sociais digitais, que então emergiam, traziam consigo uma série de ideias excitantes e provocativas.

Elas eram sinônimo de “novas formas de socialidade”, baseadas na “criação de laços construídos por afinidades eletivas, emocionais”. Falava-se de “hipertrofia da esfera da comunicação, na sociedade contemporânea”. “Navegar na internet” era um fim em si mesmo, sem um objetivo predefinido. Na maior parte das vezes, tratava-se de uma atividade sem uma utilidade prática posta em primeiro plano.

Hoje, a paisagem da internet e das redes sociais é completamente outra. Predominam temas como segurança dos dados, privacidade e fake news… O foco do debate recai sobre o modo indiscriminado como as empresas armazenam e usam dados do consumidor.

Os principais sintomas atuais desse quadro – o caso Facebook e a instituição da regulação geral de proteção de dados pela União Europeia (GDPR, na sigla em inglês) – indicam que a relação das marcas com as redes sociais terá que mudar.

 

Foto: Taco Bell, Instagram.

 

Porém, a atração e o encantamento originais das redes sofrem, igualmente, por uma outra razão essencial, relacionada, esta, ao seu modo de uso pelos próprios indivíduos.

Hoje, as redes sociais se transformaram em um imenso marketplace, onde todos parecem estar construindo a sua marca pessoal, buscando relações de trabalho, batalhando por audiência ou “fazendo marketing”, como se diz popularmente.

Todo post parece ser publicado com uma finalidade, um objetivo, para se conseguir algo de útil.

A impressão que se tem é que as pessoas não estão nem mesmo preocupadas se a comunicação “passa”, se está sendo recebida: o mais importante é contar, mostrar, publicar.

É óbvio que não se pode ter nada contra o personal branding em si, uma necessidade da gestão da própria carreira profissional. Porém, tudo se resume a uma questão de dose, de bom senso – e de evitar invadir a privacidade do outro com mensagens indesejadas, exatamente como as marcas estão tendo que aprender a fazer.

A sensação de ser submetido ao enésimo post de marketing pessoal está se tornando tão insuportável quando a publicidade velada das marcas em posts patrocinados de modo não explícito.

Daí que o fenômeno rede social passa, hoje, por um processo de linkedização – isto é, no fundo, todas elas parecem ser uma versão da rede profissional Linkedin.

Não é por outra razão, aliás, que o Linkedin tem tido tanto sucesso, ao contrário de outras redes: lá, pelo menos, o jogo é direto, honesto e tem a anuência de todos.

Odes