Novo nu?

A internet tem costas largas. É mais ou menos como a televisão nos anos 60, responsabilizada pela produção do ‘lixo cultural’, pelos ‘desvios de comportamento’, pela alienação dos jovens… Na conta da internet, coloca-se um pouco de tudo também, até mesmo a crescente exposição dos corpos, a precocidade sexual dos tweens, a erotização da infância… Confundem-se ‘meio’ e ‘causa’. O afã de produzir o ‘fato novo’, a busca de uma perspectiva sobre o futuro acabam traindo o desaparecimento de qualquer horizonte histórico. Como olhar para trás, num mundo em que ‘há dois anos’ foi há muito tempo? Em tal contexto, torna-se impositivo esquecer, por exemplo, que a exposição dos corpos na publicidade, como recurso para aumentar o ‘fetichismo da mercadoria’ – com o perdão da expressão – é uma tendência consistente e ininterrupta desde o final dos anos 60, com picos nos anos 80 (alguém ainda se lembra das campanhas Calvin Klein?) e 90 (e Gucci sob Tom Ford?). É claro que o momento é outro, houve aprofundamento e generalização do corpo-objeto, e o fato novo é que essa tendência hoje se expressa no comportamento individual – ‘eu’ é a mercadoria -, algo que se tornou possível pela penetração das tecnologias de informação e comunicação no cotidiano. Porém, empurrar a conta toda para a internet, em termos de explicação do fenômeno, é equivalente a afirmar que se escrevem cartas anônimas por causa do correio…

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Odes
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