POR QUE A COMPUTAÇÃO COGNITIVA NÃO PODERÁ DAR CONTA DA PREVISÃO DE TENDÊNCIAS
A relação entre as tecnologias cognitivas e o futuro do trend forecasting é um debate que interessa aos criativos e aos profissionais das tendências.
No campo das tendências, uma discussão atualíssima e muito presente nas mídias tem sido sobre o futuro das atividades preditivas, e, por extensão, do trend forecasting. Nos últimos anos, uma inflexão notável nessa discussão se deu por conta do crescente papel dos dados e da inteligência artificial na sociedade contemporânea, tema que já discutimos em outro post. Afinal, até que ponto a tecnologia vai influenciar a prospecção de tendências e, por conseguinte, a própria criatividade nos campos que dela se beneficiam, como a moda e o design, entre outros?
TECNOLOGIAS PREDITIVAS
Influenciar e ajudar, sim – mas, resolver completamente, não. Uma das apostas da indústria tec de ponta são as tecnologias preditivas à base de grande quantidade de dados. Um post recente do site Quartz (de título bastante provocativo, aliás: “a previsão das tendências virá dos inovadores em tecnologia, não dos estilistas de moda”) defende que os dados, agora, passam a ser vistos como aliados da criatividade, uma alavanca para inspirar os designers e minimizar os riscos: “Quando os designers se sentam para criar as próximas silhuetas, seus desenhos podem ser informados por dados reais, não apenas por sua intuição”. No futuro, a computação cognitiva deverá fazer o trabalho de analisar montanhas de informação – imagens, fotos, desfiles, dados de compras e outros inputs deixados à disposição pelos consumidores -, identificando padrões e tendências que irão se transformar em moda e inundar o mercado.
Algumas coisas chamaram a nossa atenção nessas afirmações. Primeiro, a ideia de “minimizar riscos”, conferida aos dados, é uma definição clássica do próprio fenômeno “tendência”, na sociologia. Por outro lado, afirmar que os designers de qualquer área criam apenas com base em sua intuição é, no mínimo, ingênuo, para não dizer de má-fé.
É claro que sistemas como o Watson, da IBM, são incrivelmente mais poderosos, rápidos e baratos para realizar algumas das operações que os designers já fazem por métodos, digamos, humanos. Nesse sentido, devem, sim, transformar-se em novas ferramentas para a criação, aliando-se às estabelecidas. Quanto à relevância da “moda cognitiva”, em termos de inovação, deixamos o julgamento com o leitor, por meio dos exemplos citados no artigo em questão.
UM GRANDE PORÉM
Mas, o que dizer das criações que vão alimentar a vontade de romper com o padrão dominante, iniciando um novo ciclo de tendências? Esta só poderá vir da mente humana, da criatividade e da vontade de inovar. Além disso, há toda a esfera da análise de tendências, cada vez mais estratégica, que não se resume aos dados, embora seja alimentada por eles.
Como afirmou o sociólogo Dario Caldas, no artigo sobre economia criativa feito para o caderno especial da Folha de S. Paulo (publicado em 25/08),
“A era do indivíduo autônomo e empoderado é, também, a do império da criatividade, que pressupõe talento, imaginação, habilidade e conhecimento. No futuro, portanto, deve crescer a importância das pessoas e de suas ideias, ao contrário do que faria crer a ênfase exacerbada do nosso tempo no poder da tecnologia”.