Soft power
Nem só de commodities, felizmente, é feito este País. Enquanto a desindustrialização avança, o jeito é apostar no soft power brasileiro. Nessa esfera, há sempre um motivo a mais para cantar e decantar o nosso maior patrimônio, a música. A riqueza é tanta que dá pra se perder, fácil. Não vamos nem ensaiar uma lista dos nomes que contam, hoje, na borbulhante cena paulistana, por exemplo. Mas para mapear o que interessa nesse território super-estratégico, uma coisa é certa: é preciso desviar um pouco o foco da MPB que sedimentou a imagem da ‘música brasileira’, da bossa nova aos ‘grandes nomes’ hegemônicos, passando pelo mainstream Rio-Bahia. Nem todo mundo se tocou ainda e prefere continuar apostando na new-nova-bossa, na Ana Carolina como melhor cantora (será que ela é acionista da Nova Brasil FM?) ou afirmar que as novas cantoras são muitas e todas iguais… Bom, falemos do que interessa: é hora de escutar a música pré-bossa nova, a geração 2000-2010 e o undergorund, cada vez mais surpreendente. Claro que o período 1960-2000 continua sendo o celeiro onde se alimentam os novos artistas, que felizmente têm um gosto fortemente randômico e não incensam nada tão facilmente assim, no sentido de que não reverenciam, portanto estão livres para revisitar sem preconceito. É o que alguns têm feito com a ‘música urbana’ dos anos 80 (Itamar, Rumo e os outros). Outras duas característica dessa nova MPB são o comportamento ‘individualista em rede’ dos novos artistas, no sentido dos múltiplos ‘projetos’ que recombinam os indivíduos em ‘n’ configurações, formando outros tantos grupos; e, claro, os novos canais digitais de difusão, que subverteram tudo. O site do Instituto Moreira Salles traz os clássicos da era do rádio a um clique e multiplicam-se iniciativas como o projeto Compacto, que grava encontros para difundir só pela internet.