Think Pink

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Meninas, cuidado! Corre solta e sorrateira uma contra-revolução feminista, que utiliza a ‘pinkification’ do mundo como o mais perfeito ardil para perpetuar a submissão feminina. Por meio da ‘ditadura do rosa’, vocês estariam fadadas a aceitar passivamente todos os estereótipos do modelo que o feminismo parecia ter abolido já nos anos 70. Ao menos esse é o fio do argumento de M. Goldenberg no artigo ‘Princesas cor-de-rosa’ (Folha Equilíbrio, 24/08/2010).

O que incomoda nessa linha de abordagem é o descompasso com outras visões das crianças e pré-adolescentes de hoje, descritos por especialistas de toda ordem como mais espertos, rápidos, antenados e precoces, e não só na sexualidade, mas também na afirmação do próprio gosto, na autonomia e na individualidade. Essa descrição da primeira geração de nativos digitais não combina com ‘princesinhas cor-de-rosa’ submissas e dependentes.

O mesmo se passa em relação aos homens, ora representados (na mídia em geral) como machos que ainda têm muito a evoluir, ora como seres livres e bem resolvidos, dependendo do uso que se quer fazer da afirmação. No artigo citado, a liberdade dos meninos é vista em contraponto à falta de escolha das meninas. Mas será que os meninos são tão ‘livres’ assim? Será que um menino pode se vestir de rosa para sair da maternidade ou ir à festa do amiguinho? É claro que não, e a questão, aliás, é outra: Será que ele gostaria de se vestir assim?

Porque algo não combina com esse cor-de-rosa ‘imposto às meninas desde o berço’. Imposto por quem? Pela ‘mão invisível’ do pai castrador, travestido de Mercado? Por mulheres alienadas, que escolhem pink para suas filhas sem saber o mal que estão lhes causando? De novo, algo não rima: são essas mesmas mulheres que foram à luta, conquistaram a liberdade sexual, o mercado de trabalho, a presidência da República… E logo ali adiante estão submetidas à dominação do príncipe encantado, e tudo começa no cor-de-rosa!?!

Por que eliminar a dimensão da escolha, do gosto, da identificação com o universo feminino, e guardar só a da imposição e da dominação? Será que a onda de ‘pinkification’ – de resto, inegável – carrega ainda hoje, necessariamente, o espectro de valores negativos antigamente associados a ele? Quem é que os está enxergando e introjetando?

Podemos conceder que o filme ‘Legalmente Loira’ seja um excesso otimista hollywoodiano. A julgar, no entanto, pelas dilmas e marinas da hora, é bem outro o príncipe que as seduz em 2010 – mesmo que vestidas de rosa, ou de vermelho.

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Odes
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