O VAREJO DE EXPERIÊNCIA NA ERA DO BEM-ESTAR
texto: Ariela Ranielly, colaboração para o ODESBLOG
imagem: Body Studio at Selfridges London. Photography by Matt Writtle
Após tantos anos enchendo nossas vidas com produtos cada vez menos necessários, começamos a nos questionar:
Para que “ter” tanto se estamos ficando sem espaço par “ser” muita coisa?
Uma nova forma de pensar – mais desapegada e orientada para a coletividade – desconstrói a relação que estabelecemos com o universo material a nossa volta e nos impulsiona a mudar não só a forma como consumimos, mas também a repensar “o que” consumimos.
Consumo consciente, consumo compartilhado, economia colaborativa, marketing de valores, entre outros novos conceitos que já fazem parte de nossas vidas, apontam uma nova consciência e constroem oportunidades – ou talvez sejam necessidades – de configuração de novos formatos de negócios e produtos.
Em um tempo em que se valoriza tanto a qualidade de vida e o bem-estar, boas memórias são muito mais valiosas que objetos acumulados em prateleiras, a não ser que eles sejam o souvenir que resgate o sentimento da experiência vivida. E para isso é preciso tempo – bem precioso que estaria esgotado nas lojas se estivesse à venda!
Muitas campanhas, vídeos e textos incentivam as pessoas a se aceitarem como são, a viver a vida com mais liberdade e prazer e a se expressarem de maneira única. E isso impacta (e muito) como e o que consumimos. E por mais que as marcas estejam se esforçando em mudar para atender esse novo consumidor, muitas vezes a principal questão não é “como”, mas “o que” se compra. Para muitos consumidores – em especial os da geração Y ou Millenials – não adianta nada uma marca de fast fashion oferecer uma experiência de compra maravilhosa (que os faça quase esquecer que estão comprando) para que saiam da loja com uma sacola cheia de produtos datados, baratos, que vão durar pouco e, muito provavelmente foram produzidos com recursos de origem duvidosa.
A questão não é só o processo da compra, mas também o produto em si.
Body and soul
A tradicional loja de departamentos inglesa Selfridges inaugurou em abril um espaço que oferece, em um só lugar, lingerie, pijamas, loungewear, roupa de ginástica, moda praia e wearable technology para promover a diversidade e fortalecer a autoestima feminina na busca de saúde e bem-estar.
O espaço reflete uma visão holística e atual da saúde, do corpo e da mente e, enquanto negócio, vai muito além da oferta de um mix amplo de produtos, aos quais se somam serviços que tornam a experiência de compra um momento hedonista de cuidados pessoais.
O maior departamento já criado pela marca oferece ao público um espaço no qual a mulher pode conferir sua numeração de lingerie sem nenhum custo, um salão de beleza e um café “saudável”. A campanha criada para o lançamento, intitulada “EVERYBODY”, promove uma série de eventos que vão desde debates conduzidos por celebridades do universo zen como Deepak Chopra a aulas de multi-sensory ioga e power spinning. Tudo para cuidar do corpo e da alma.
Travel easily and be happy
Viajar se tornou muito mais que uma atividade, transformou-se em um – muito desejado – estilo de vida. Quanto mais carimbos no passaporte, mais “rico” (em experiência) você se torna. E com o objetivo de “oferecer belos objetos que permitam as pessoas viajar mais facilmente” nasceu a Away. Após o lançamento online no início deste ano, a marca americana decidiu levar não apenas seus produtos, mas também sua história, ao encontro do público, montando uma loja conceito efêmera no NoHo, em Manhattan.
Com apenas dois produtos à venda (a mala carry-on e um híbrido de lenço, scarf em inglês, e cobertor, blanket, chamado “blarf”), a marca abriu espaço para itens descolados, selecionados por amigos, para compor um espaço que une os destinos preferidos das fundadoras – Tóquio e Estocolmo -, além de oferecer produtos desenvolvidos em sugestivas parcerias exclusivas com a japonesa Tokyobike, a escandinava Sockerbit e a americana CAP Beauty.
Mudança de foco
O novo consumidor espera que o produto e/ou serviço adquirido seja resultado de uma experiência que eleve a alma, valorize seu tempo e, por que não, beneficie seu corpo. Assim, as marcas precisam dotar produtos de sentido, de preferência resultante de uma experiência gratificante, construída com base em valores coerentes com o contexto social atual.
É fato que consumidores continuam gastando dinheiro, eles apenas mudaram o foco com o que gastar. Por isso, talvez não adiante apenas mudar a forma como sua marca vende, mas sim reformular drasticamente o que ela vende.
Por fim, ofereça uma experiência que empodere o corpo e a alma e o produto na sacola poderá ser uma mera consequência…