INDÚSTRIA CRIATIVA INDICA CAMINHOS PARA SETORES MAIS TRADICIONAIS

  • Publicado no caderno especial Economia Criativa da Folha de S. Paulo, 25/08/2017 

A economia criativa tem diversos pontos em comum com o universo das
tendências. Se não são novos, os dois conceitos se difundiram e ganharam
legitimidade nos últimos vinte anos. Ambos passaram a fazer sentido apenas
quando a sociedade da mudança acelerada atingiu o patamar que
conhecemos. E tanto as indústrias criativas quanto as tendências se definem
por uma relação fundamental com um terceiro elemento: a inovação como
pedra de toque da sociedade e do mercado.


A criatividade é o combustível da inovação, a qual, por sua vez, cumpre a
função de redesenhar em permanência os contornos do espírito do tempo. É
por isso que a identificação e a análise de tendências – seja no nível dos
influentes macromovimentos socioculturais ou dos microfenômenos passageiros, que fazem girar a roda das inovações incrementais – funcionam como plataforma privilegiada para a criação e como oxigênio para as indústrias criativas, que influenciam cada vez mais os estilos de vida e o consumo.

De fato, no quadro de um capitalismo e de um consumidor que já foram chamados,
respectivamente, de “artista” e “esteta”, a dimensão simbólica e expressiva dos
produtos da economia criativa responde a anseios profundos do indivíduo,
como o de expressar-se, a busca por realização pessoal, bem-estar e prazer
de viver.


Ao conceber e disseminar novos modelos de negócios e de geração de
riqueza, as indústrias criativas indicam caminhos para os setores tradicionais
da economia, muitos dos quais precisam mudar para competir, na nova
realidade global. O caso da indústria da moda é relevante. De um sistema
fechado, altamente hierarquizado e centrado em instituições seculares, a moda
tem encontrado novos caminhos nos empreendedores individuais e nas
pequenas e médias empresas intensivas em criatividade, amparadas pela
infraestrutura digital e orientadas para a inovação, em suas múltiplas formas.
Por fim, cabe relembrar que não existiria o novo – o pensar e fazer as coisas
de modo diferente, hoje elevados à categoria de valores fundamentais pelas novas gerações – se não houvesse, antes, o investimento individual na própria
criação. Assim, a era do indivíduo autônomo e empoderado é, também, a do
império da criatividade, que pressupõe talento, imaginação, habilidade e
conhecimento. No futuro, portanto, deve crescer a importância das pessoas e
de suas ideias, ao contrário do que faria crer a ênfase exacerbada do nosso
tempo no poder da tecnologia.

Dario Caldas