Mercado de tendências vive turning point
Não é de hoje que temos observado um movimento profundo de reestruturação das tendências, tanto na teoria (com avanços recentes, especialmente, em sociologia das tendências), quanto na sua prática profissional.
Ao que tudo indica, os pés de barro do mito da inovação, que hipnotiza os mercados, começam a se trincar. A hegemonia dos ciclos curtos encontra um questionamento à altura no forte anseio do consumidor por durabilidade, para ficar em apenas um aspecto das mudanças em curso. Por outro lado, a aversão das empresas ao risco torna-se ainda mais aguda, no cenário instável em que vivemos, acarretando mais investimento em “atualização” – que quer dizer, na verdade, “confirmação” – do que em antecipação e lançamento de tendências. Resta saber se essa é a estratégia mais indicada, no longo prazo. Recria-se um mercado cada vez mais homogêneo, a despeito de todo o discurso da diferenciação. No Brasil, as categorias na moda – “classe C” e “geração Y”, para citar só as mais “pregnantes” – são usadas, indiscriminadamente, para explicar e justificar tudo e o seu oposto. Outra questão (esta, objeto de mais de um teórico das tendências, simultaneamente, no plano internacional) é a desmistificação da ideia de que exista um tipo de consumidor “mais emissor” de tendências do que outros, ou que esse “tipo ideal” se situe em uma determinada camada social, ou faixa de idade, ou campo privilegiado de atuação…
Enfim, se a estrutura das tendências está em mutação, não muda a necessidade crescente de análises cada vez mais calibradas, que de fato identifiquem, expliquem e contextualizem os sinais ao mercado, até como antídoto aos discursos “tendenceiros” que a tudo atribuem um significado pós-fato.
O movimento atual das tendências requer, assim, extrema seriedade e investimento intelectual, algo de que o Observatório de Sinais (felizmente, posso afirmar) não tem se esquivado, desde a sua fundação. Há quase dois anos, estamos procurando sistematizar esse quadro em uma síntese, “as novas regras das tendências”, que resultaria em uma nova publicação. A dificuldade é tanto maior quanto o nosso desejo de entregar algo verdadeiramente relevante ao mercado, e de não apenas, parafraseando Rubem Braga, dizer as coisas de sempre de um modo diferente.