POR QUE O “ART WORLD” INTERESSA (CADA VEZ MAIS) ÀS TENDÊNCIAS
Não é novidade que a arte, os artistas e seu universo particular sempre foram um foco importante de inspiração e de criação de tendências, que outras formas de manifestação da cultura, como a moda, o design e a publicidade, acabavam incorporando à sua maneira. No entanto, já faz algum tempo que o sistema da arte vem passando por mudanças estruturais, afetando o modo como as pessoas percebem e se relacionam com o chamado “art world”, despertando um interesse crescente para as marcas e o mercado como um todo. Uma feira de arte é sempre uma oportunidade para a pesquisa de sinais. Fomos conferir a sp-arte 2017, procurando confirmar as tendências de sociedade que alimentam o hype da arte contemporânea.
Um buzz forte que corria na feira era sobre o sucesso de público, com o Pavilhão da Bienal tomado por visitantes, especialmente no final de semana. De fato, o interesse por arte se tornou transversal e se ampliou, deixando de ser atribuível apenas às “elites cultas” ou a grupos especializados.
No bojo do processo mais amplo de estetização do cotidiano, os indivíduos anseiam por beleza e por formas de expressão artística que os ajudem a compreender e a representar o mundo em que vivemos. A democratização da arte se insere nessa macrotendência.
HIBRIDAÇÕES
O último andar da feira foi reservado aos estúdios de design, evidenciando, mais uma vez, o hibridismo crescente entre territórios que antes dialogavam esporadicamente.
Mas, atenção: não se trata de afirmar que “tudo é arte”, e sim da constatação que existe, do ponto de vista do indivíduo-consumidor, um campo de interesses que é percebido como contínuo.
Uma grande festa mundana e nada reverente às instituições da arte
ART EXPERIENCE
Arte contemporânea entregue sob a forma de uma experiência contemporânea: é esse o segredo do sucesso das feiras de arte atuais e das galerias de ponta pelo mundo afora. A crítica reclama da “espetacularização” das mostras, das obras e do próprio visitante, que estaria mais ocupado com selfies, compartilhamento de fotos e entretenimento do que com a “fruição”. Mas essa grande festa mundana e nada reverente às instituições é o modo atual – e não necessariamente empobrecido – de relacionar-se com a arte, queira-se ou não.
HOMO POLITICUS
Resistência e atitude política são tradição nas artes, e o momento, todos sabemos, é propício ao aprofundamento dessa tendência. Como comentamos recentemente, da semana de design de Milão às semanas de moda, passando pela obra de diversos artistas representados na feira paulistana, não há dúvida de que a política, em sua definição mais ampla, é o novo cool. Críticas ao capitalismo, ao consumismo e questões de gênero continuam em alta.
A política é o novo cool
EXPESSION: MAKE IT DOUBLE
Telas com dizeres, frases diretamente nas paredes, camisetas com mensagens ressignificadas pelo artista: obras que falam com você – literalmente. Vimos uma porção delas na sp-arte 2017, na melhor tradição da pop art e da pioneira Barbara Kruger, por exemplo.
ART BUSINESS
A financeirização do universo da arte, formando um mercado global, conectado e especulativo é, de longe, o aspecto mais polêmico e mais radical de suas transformações. Os puristas comparam mostras e galerias a lojas de departamentos. De seu lado, o mercado identifica oportunidades – cada vez maiores.
Não por acaso, uma feira de arte se tornou um campo promissor para estratégias de branding, como vimos na feira paulistana, com uma forte e esmerada presença de marcas em busca de sintonia com o “consumidor esteta”. O maior risco? A banalização em curso do próprio conceito de arte, que pode simplesmente roubar a especificidade de encontros como esse. A conferir a sequência dos sinais…